
Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou. (Evangelho de Lucas 19:41)
A capacidade de Deus se condoer diante do caos humano...
Ja chorei intensamente, mas faz tempo que não o faço...choro sentido, choro doído, choro como expressão de uma angústia infinita, um sufocamento desesperador de tristeza. Estes foram meus verdadeiros choros, lágrimas vertidas pelo remorso, pelo arrependimento, pelo que deixei de viver em busca de uma felicidade que ja me pertencia. O choro da impotência, o choro torrencial...o choro que só se esgota no sono do qual lamentamos despertar.
""Chorar é diminuir a profundidade da dor." (William Shakespeare)
O choro é a manifestação mais humana dos humanos e também dos deuses...
Me lembro de Orfeu,o filho do deus sol, que encheu-se de amargura e tristeza após a morte de sua amada Eurídice. Entoava melodias tão triste que os deuses choravam ao ouvi-las...
Uma coisa me ocorre nesse devaneio, chorar não é atributo só de homens e de deuses, mas quando o próprio Deus chora, cai sobre mim como chuva inesperada um questionamento inquietante...a motivação do meu choro.
No geral meu choro começa e termina em mim mesmo. Eu sou a fonte de minha própria angústia.
Mas Jesus chorou diante do túmulo de Lázaro, condoído pelas lágrimas de suas irmãs.
Jesus chorou diante de Jerusalém que matava seus profetas.
Jesus chorava pela dor do outro e não pela sua própria dor.
A tragédia das nações, sejam elas produzidas por bombas aliadas, pelo despertar dos vulcões ou pela fúria subterrânea de placas em conflito, me impressionam, mas não convidam minhas lágrimas ao cortejo fúnebre de suas vítimas.
Sou um produto da minha época, não tenho tempo de chorar e, por isso mesmo, me redescobrir...me reinventar.
De nada me consola saber que não estou sozinho no deserto causticante da indiferença...
Mas com o Deus que se fez homem aprendo que chorar é preciso, mais que nunca...
Não por minhas mazelas, e sim pelas do mundo, pois ainda que chore a noite inteira, a alegria virá ao amanhecer.