"Mas para vós que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça..." (Profecia de Malaquias 4:2)
E assim chegamos ao final de mais um ano...
Sejamos francos, pouca coisa mudou...
Pelo menos na vida da maioria de nós.
E a pergunta que fica é:
Era mesmo necessário mudar?
Por que ansiamos tanto por mudanças?
A cada ano nos despedimos do ano velho que doze meses antes celebramos como novo.
Isso é uma pequena amostra de como vemos a vida.
Suportamos a existência quando deveríamos vivê-la, celebrá-la... como uma dádiva divina.
Mas como, se O Deus que nos presenteou a vida é resignificado a todo instante segundo nossas conveniências?
A mudança que muitos de nós queremos é a mudança do outro.
O ser humano é capaz de entediar-se com a mais bela paisagem se não estiver de bem com a sua alma.
A cada ano que se torna velho concluo que o velho sou eu.
Despeço-me do ano velho porque não tenho coragem de despedir-me de mim mesmo.
Assim, vou colecionando lamúrias e me acrescentando pesos que me farão arrastar por mais um ano que era para ser novo.
Não sou contra mudanças...penso mesmo que elas são necessárias, mas mudança alguma será satisfatória para quem não se propõe a mudar primeiro.
Precisamos urgentemente fazer as pazes com a vida, reconciliando-nos conosco mesmos.
Somente assim as mudanças serão efetivas e duradouras, pois terão partido do lugar certo...
...de dentro de cada um de nós.
Feliz vida nova!
Marcelo de Paula
Gosto muito de devanear ouvindo música. Convido você a essa viagem comigo depois do que acabou de ler. Lembre-se que Deus te fez para ter comunhão com Ele, para ser feliz, pleno(a), absoluto(a). Aceite, pois, o projeto de Deus para sua vida, que passa pela cruz.
"Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados" (Carta de S. Paulo, Apóstolo aos Efésios)
Fiquei por alguns momentos observando aquela moça...
Dividíamos o mesmo espaço...um jardim oriental que decorava o quintal de uma clínica.
Eu, ela e algumas abelhas, que cortejavam lindas rosas emprestando uma beleza ímpar ao local .
O som de uma pequena cascata preenchia o ambiente com sua melodia constante e harmoniosa.
Fluía paz ali, ou quem sabe...em mim.
Não há como não devanear em condições assim, logo eu, que preciso de bem pouco para fazê-lo.
Ah, sim... a moça...
Cabelos lisos, preto, curtos, tipo chanel, camiseta preta sob um colete e bermuda jeans...
Calçava tênis sem meia, clara, de beleza rústica.
Tudo nela indicava fazer parte de algum movimento de contracultura.
Mas foram suas tatuagens que recobriam ambos os braços, as culpadas por esse devaneio...
No braço direito, um violino...
Pouco abaixo deste, uma maçã, e, dentro dela, o mapa mundi.
No outro braço, três rostos enfileirados do que pareciam ser soldados de chumbo, fardados em frente a uma fábrica e uma inscrição em inglês que dizia algo como: "somos como robôs...estamos mortos".
Foi aí que percebi, ao olhar pessoas entrando e saindo daquela clínica, o fundamento da crítica que sua pele estampava.
Passei a refletir sobre como ser mais significativo para as pessoas à minha volta...
Como deixar de agir feito um robô programado pelo sistema...
Algumas pessoas terei uma chance só de ver na vida...
Preciso deixar-lhes ao menos meu sorriso, e este, com significado.
Não quero viver correndo para lugar nenhum, sabotando minha necessidade de convivência.
Somos condicionados a sistematicamente desumanizar e coisificar o outro.
Somos como robôs...não vivemos para além do que nos deixamos programar...estamos mortos.
Tem pessoas que são como âncoras para nós...
Nos são referência, porto seguro, ouvidos atentos, voz oportuna...são significativas.
Pessoas que não deveriam morrer, mas que morrem...porém, continuam significando.
Minha morte tem que ser sentida...se não for, significa que passei a vida sem significar.
E isto não quero, viver morto.
Ser significativo é isso...
É ser necessário...é ser presente...
É passar mensagem a desconhecidos, ainda que sem saber...
É ser do seu próprio jeito, ainda que diferente, mas que de uma forma ou de outra, comunica.
Ser significativo é ser lembrado quando a coisa aperta...
É provocar riso mesmo estando ausente...
é fazer saudade quando se parte.
É com um simples bom dia, tornar bom o dia de alguém.
É contribuir para que o mundo seja mais musical e menos pecaminoso.
Enfim...
É ser como Jesus foi e nos ensinou a ser.
"...homem de dores e que sabe o que é padecer." (Profecia de Isaías - cap. 53)
Confesso que tenho medo da dor...
Não da dor do corpo, mas da dor que dói na alma.
Aquela que grita em silêncio...Grito que ecoa no vazio da indiferença de um mundo por demais ocupado.
Aquela que não encontra consolo, por este já não existir...
...que se reproduz no tempo que não passa...
...que te judia ao cair da noite fria quando a lua sorri tímida entre estrelas quase opacas.
Aquela que te convida à valsa fúnebre do absurdo, e te conduz feito aprendiz do sofrimento.
Aquela que te rouba o chão e te faz sentir ninguém.
Aquela que sente o rejeitado...
...o que ama em segredo...
...o que dorme ao relento...
...o que esperava o mínimo e não teve nada...
Aquela que sente o injustiçado...
...o que desconhece a razão de tanta desventura...
...o preterido no banquete da felicidade...
...o que almeja o fim, por não ter tido sequer começo...
Ficaria horas devaneando sobre as possibilidades da dor.
Longe de ser um auto flagelo, é um exercício de humanidade...
O medo da dor não me inibe de refletir sobre ela.
Sei que pessoas sofrem ao redor da terra.
Não me permitirei anestesiar pela indiferença.
Quero dividir meus medos para que os que sentem o mesmo saibam não estar só, pois, das piores dores da alma, é aquela que a gente sofre sozinho.
O que costuma me acalentar nessas horas é conhecer um homem muito especial, conhecer por experiência, de andar com ele...
O profeta o chamou de "homem de dores e que sabe o que é padecer".
Ele também se viu só...
Do alto de uma cruz viu o céu enegrecer e a chuva desabar...
Viu sua mãe chorando em prantos sem poder lhe consolar.
Viu no olhar de seus discípulos o pavor do desencanto.
Por passar por tudo isso, Ele sabe te compreender...
Mas confesso que ainda tenho medo da dor, assim como você...até um dia...
...tudo isso passar.
Marcelo de Paula
Dentre as muitas dores, uma das mais recorrentes são as de amores mal sucedidos...
Divido com vocês "O que mais dói" dos rapazes do Rascal Flatts...
"Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Livro de Jó 42:6)
Eu, igual...
Igual a você...
...e quantos mais?
Pensavas ser o único habitante do vale do silêncio?
Aquele lugar onde os rios são de lágrimas e as estradas não levam a lugar algum...
Onde a noite chega depressa, mas custa...como custa amanhecer.
Castelo de sonhos abortados...parque de depressão...
Colo de mãe triste cuja semente não vingou.
Canto em que o canto desafina com o desencanto dos desencontros.
Lugar sombrio...interior de nós, vós...eles.
Mas quem se importa?
Eu me importo...
Eu, igual...
Igual a você...
...e quantos mais?
Quando as dores se encontram ficam menos dolorosas...
e o cuidar da chaga alheia nos faz sentir mais fortes.
Ah, este mundo de aparências, onde a felicidade nos é servida em pílulas de placebo...
Acreditamos no que nos convém diante da ausência de certezas.
Não, não quero parecer herói, muito menos sóbrio...
Não quero ser a voz que aponta o caminho...
Antes, quero caminhar com os que perderam a voz.
Eu, igual...
Igual a você...
...e quantos mais?
Se somos iguais, demo-nos as mãos...
Façamos companhia à solidão uns dos outros.
Dispensemos o orgulho torpe que nos distancia.
Vivenciemos plenamente a experiencia de sermos humanos.
Livremo-nos das máscaras que não nos permitem reconhecer no outro.
Admitamos nossas contradições e nossa fome de verdade.
Perdemos o aconchego do Paraíso ao adentrarmos o portal da insensatez...
Crucificamos a nossa paz ao escolhermos Barrabás...
A terra prometida nos aguarda, no entanto...
Lá os rios são de água, água pura e cristalina, e O Caminho leva à vida...
O sol brilha constante, ilumina e aquece nossas penumbras...
Colo de mãe satisfeita com o filho alimentado...
Canto de anjos, miríades deles, que cantam encantados pelo reencontro de Pai e filho.
Lugar de Paz...interior de quem quer que aceite o projeto restaurador de Deus.
Nascemos para viver, e viver intensamente...
Eu, igual...
Igual a você...
...e quantos mais?
Marcelo de Paula
Para Carine Gama e todos os que, como nós, enxergam o invisível.
"Para quem iremos, Senhor, se só tu tens palavras de vida eterna"?
(Evangelho de S.João, Apóstolo, 6:68)
Para quem iremos?
Pior que a falta de esperança é a desesperança.
Não, não é mero jogo de palavras...nem mesmo um simples devaneio, é uma constatação.
Falta de esperança é a "não esperança"...aquela que nem chegou a existir.
Desesperança, por sua vez, é a esperança que deixou de esperar...
É a esperança que, cansada, desesperançou...
que desistiu...
Esperança que morre, pense comigo, nunca foi esperança.
Esperança vai além do sentimento...não é suscetível à inconstância de nossos humores.
A esperança é multiplicadora...
Que seria daqueles que se inspiram em nossa esperança vendo-a desesperançar?
Não quero nem imaginar.
Temos mil razões para cansar, é verdade, mas...um milhão delas para se recompor.
Temos referências, temos para onde olhar...
Temos porque esperar e, mais que isso, por quem esperar...
"I have a dream today"
Que seria dos negros em todo o mundo não fossem a esperança de Martin Luther King e também de Mandela?
Que seria de tantos miseráveis na Índia não fosse Madre Teresa, que, diga-se de passagem, quase desesperançou...
Seria a Índia independente não houvesse Mahatma Gandhi?
Seriam oitenta mil crianças libertadas do trabalho infantil nesse mesmo país, não fosse pelo desprendimento e compromisso do ativista Kailash Satyarthi?
"As ânsias do meu coração se têm multiplicado; tira-me dos meus apertos" (Salmos 27:17)
Abro o mês de Novembro falando de aperto, aperto no peito.
É de vez em quando que acontece..
A sensação não é nada boa...
O ar fica pesado, a boca meio que seca e a tristeza lentamente se instala.
O medo, então, se nos impõe...a paz já nos deixou.
Sentimento de impotência, torpor...sei lá...
A angústia não tem hora pra chegar...ela simplesmente chega.
Ainda bem que passa...
Faz tempo que não ocorre comigo, não advindo de causas interiores, pelo menos, porque a bem da verdade, meu peito sempre aperta diante do sofrimento alheio.
Não quero mudar, essa empatia me faz bem...me humaniza retardando em mim os queixumes da velhice.
Mas li na página de alguém:
"Hoje meu peito está apertado"...
Aquilo tocou-me...
Tocou-me porque conheço bem a melancolia dos sinos que se tocam ao cair da tarde.
A melodia fúnebre que ecoa nos porões da existência incerta, que, mesmo acompanhada, se sente só.
A beleza que não convencida da sinceridade do espelho, espera em vão o elogio de quem lhe tiraria toda dúvida.
Enfim, conheço a angústia de ser invisível quando mais precisava ser visto.
É claro que o peito aperta...
Mas qual laço de amor jogado do céu, eis o socorro providente que me impede de sufocar no desalento.
A palavra amiga, a frase relida, a boa notícia, o humor gentil...
São tantas as formas com que Deus me faz perceber que no peito em que bate um coração contrito, ali Ele também faz a sua morada.
É claro que o peito expande...
A melodia agora é a da sinfonia dos anjos que Ele elege para me cuidar.
A luz invade cada canto secreto e clareia segredos inconfessáveis...
As janelas da alma se abrem e ventilam o doce sopro do Espírito.
Em Deus encontramos aceitação.
Por meio de Cristo , que de peito aberto nos atraiu à cruz para fazer de nós homens e mulheres felizes...
...em qualquer circunstância...em qualquer momento, pois...
"Ponha sua boca no pó, talvez haja esperança." (Lamentações 3:29)
Se a felicidade se foi...
Levou com ela o sentido da vida.
O que fica é o vazio, que velado pela alma angustiada, se engrandece em meio ao nada.
Se a felicidade se foi...
Levou com ela a esperança... os assovios da manhã...
O canto das aves para os quais o ouvido ensurdeceu.
Ah, saudade...
espinho na carne...
mensageiro do abismo...
tormenta sem fim...
Lembranças não faltam...quantos momentos sublimes, sorrisos fáceis, instantes que não se findavam, até que se foi...
Levou o que havia e o que haveria.
Se a felicidade se foi...
Deixou a ferida, a marca impregnada da ausência...
O suspiro de saudade, o delírio e o gemido nas noites insones.
A crise que perdura, a recusa ao consolo, o mau estar que nunca cessa.
"Porque me rolam lágrimas nas face, assim como são normais sorrisos seus..."
Chora, chora mesmo minh´alma infeliz, pois a felicidade se foi e precisa ser sentida.
Só assim o consolo virá...
Quando desnudada, a alma aflita não fugir mais de si mesma...
Quando as perdas forem tais que você chama por Deus...mas chama de verdade...
Até que se descubra que a felicidade, quando está em Deus, ah... ela jamais se vai.
"......de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo." (Carta de S. Paulo aos Romanos 15:19)
Bem que eu queria...
Olhar da janela e avistar o horizonte sem fim...
Até onde meus olhos pudessem alcançar.
Privilégio de poucos, quase ninguém.
Deixar-me-ia seduzir pelo espelho de Deus emoldurado de luz ao romper da aurora, oh retrato da glória que me enche de paz.
Bem que eu queria...
Não apenas querer, muito mais que viver...completar-me com o que me basta.
Saber que doando de mim mais de Deus eu vou ter...
Queria pegar na mão do transeunte, ser-lhe o anjo que a muito aguardado traz o anúncio do favor divino.
Queria saciar a sede do nômade, que vagando pelo deserto da existência se guia pelas miragens alucinógenas da ilusão.
Bem que eu queria...
Ter a palavra oportuna quando ninguém mais soubesse o que dizer...
Ser o abraço que aquece, o ouvido que escuta, os olhos que olham nos olhos...
O colo sempre vago e o ombro disponível.
Queria esculpir sorrisos em rostos disformes, vitimados pela desilusão...
Ser o semelhante do que se deplora para que soubesse não estar só.
Bem que eu queria...
Encurtar as distâncias que o meu comodismo exagera...
Falar o idioma da alma silenciada pela ausência de esperança.
Bem que eu queria...
Abrir a janela e ir além do querer...
Respirar o ar da graça e se não houver quem o faça,
"...Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus." (Apocalipse 2:7)
Em meio a tantos devaneios, textos e mais textos, frases
e mais frases, me tenho feito conhecer. Ao menos tentado.
Não receio mostrar-me, me exibir sim.
Não se trata de exposição, não da minha pessoa, mas de
meu objeto literário.
Faço isso por duas razões muito simples, perceber-me
igual e também fazer-me perceber. Não sou mais nem menos, sou humano.
Intento eliminar a distancia que há entre mim e meu
próximo.
Poucos são os que pensam sobre isso e os que não o
fazem, refletem uma imagem distorcida de si, oscilando entre os extremos da inferioridade e superioridade. Não se
reconhecem no mundo e muito menos no outro. Cooperam com a produção de uma
sociedade de estranhos.
Aliás, esse é um dos males de nosso tempo, uma sociedade
individualizada... Devotos de si mesmos.
O outro é diferente demais, me contradiz nas minhas
certezas, usurpa o meu Olimpo. Citando Sartre, “é o inferno”.
Deus, ao assumir a forma humana na pessoa de Jesus
Cristo, segundo nossa fé cristã, fez do outro sua causa única. De toda a obra
do Criador, somente o homem foi feito à sua imagem e semelhança.
“Deus
amou o mundo de tal maneira...”, escreve S. João, apóstolo.
O homem pisar na lua foi um feito fantástico, sem dúvida,
mas Deus pisar na terra foi algo inigualável.
Isso tem que nos dizer algo...
Deus veio por causa de nós e só de nós, obra prima de
suas mãos.
Assim, só podemos concluir que os extremos a que nos
subtemos, hora sentindo-nos semideuses hora "seminadas", não passa de um desvio de
propósito em nossa existência.
O objeto literário que perpassa todos os meus textos e
frases, implícita ou explicitamente (raramente) não é outro, senão Deus.
Pra mim está claro e cristalino que não há projeto humano
que se sustente enquanto não houver esta volta para Deus.
Esta decisão individual que reflete no coletivo é a única
forma de humanizarmos uma sociedade divorciada do amor, da fé e da esperança.
Infelizmente, as religiões em geral burocratizaram a
relação com o divino.
Estabeleceram hierarquias e determinaram as formas, mas
Jesus disse:
“Vinde
a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”.
Arrependimento, no entanto, é uma pré-condição.
Arrependimento por termos erigido altares em nossos corações para cultuarmos, dentre
tantos outros deuses, nossa própria autossuficiência corrompendo assim nossa
existência
.
Nada somos sem Deus e se o próprio Deus se fez humano, o
fez movido por amor, um amor que está além de nossa capacidade de compreensão.
Amemos a Deus, portanto, sobre todas as coisas e o nosso
próximo como a nós mesmos, para então experimentarmos uma nova dimensão do
existir...
"As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos...Renovam-se a cada manhã." (Lamentações 3:22,23)
Todo dia é dia de recomeçar...
Mesmo que estejamos cansados, mesmo que estejamos descrentes...
Ainda que nos sintamos sós e incompreendidos.
Se o dia nos amanheceu...se ele nos recepcionou com chuva ou sol, frio ou calor, é porque nos foi dada a chance de recomeçar...
Recomeçar para servir e assim resignificar nossa existência.
Viver é um aprendizado constante e por alguma razão misteriosa, somos alunos mais bem aplicados diante das provações que nos devoram a alma, que em meio aos prazeres que nos viciam os sentidos.
Quantas vezes nos assombra o medo de perder as forças que ainda temos...
Quem já não esteve prestes a sucumbir, quando sem saber como ou porque, foi revitalizado?
É a vida que se recria, que se reinventa como fruto da graça divina.
Cada segunda que inicia a semana, cada dia que inicia o mês, cada mês que inicia o ano, cada manhã que sucede a noite, cada aniversário que fazemos, são chances, são recomeços, são oportunidades para fazermos a vida acontecer melhor.
Não se permita jamais ficar debruçado diante da dor e do sofrimento, e nem desanimado na ausência de respostas, pois em momentos assim é que nossa fé é nutrida de esperança.
São momentos em que nossa alma fica mais perto de Deus.
Se a chuva não veio e a colheita se perdeu...
Se a esperança se converteu em luto...
Se ninguém te viu chorar no auge da amargura...
Se sonhos ruíram feito castelos de areia...
Se as coisas não aconteceram como esperado...
Conserva a paz, pois sempre é tempo de recomeçar.
Mas recomece junto daquele que nunca teve começo...
Daquele que no silêncio da sua presença nos afaga a alma e nos renova a cada recomeço.
Deixo com vocês essa linda canção do hinário da CCB, para devanearem comigo em meio a paisagens tão lindas e confortadoras esculpidas pelas mãos do Criador.
Marcello di Paola
Dedicado especialmente à minha grande amiga Luciana Ribeiro
"...mas servi-vos uns aos outros pelo amor." (Carta de S. Paulo, Apóstolo, aos Gálatas 5:13)
Pela fresta da cortina, ainda com olhos semi cerrados, percebi que era manhã de sol.
Elevei meu pensamento a Deus numa breve oração pedindo forças para enfrentar mais uma semana.
Chega uma fase em nossas vidas que custamos a perceber as novidades. A vida parece acontecer de forma previsível, em movimentos repetitivos, tediosos...quase automáticos.
Nossa sede de existência é muito maior do que ela nos pode suprir. Não é por acaso que quando adultos, nosso mau humor sucumbi diante de uma criança alegre.
É tão mais fácil caminhar sem o acúmulo dos dias...
Sem a soma das desilusões e dos castigos que nos infringimos...
Sem as cicatrizes que nos lembram dores já superadas.
Viver por viver já não nos basta...precisamos de sentido. Não só de direção, mas para ser...
Precisamos do ar não só para respirar, mas também inspirar...
Precisamos das flores não só para nos seduzir os olhos, mas para nos perfumar a alma...
Precisamos do outro não só pela companhia, mas para sermos notados e também notar...
O ser humano é assim... tal como uma caixa de presente...
Por linda que seja, só fará sentido se o conteúdo for acessado.
Somos presentes de Deus uns para os outros...
Somos surpresas que mudam destinos...
Somos respostas a orações feitas em lágrimas.
Desconhecemos nosso potencial para ser benção...
O outro sente...de alguma maneira percebe o nosso afeto e carinho.
Não há tédio que resista a tamanha reflexão.
O sentido da vida jamais será encontrado na introspecção egoísta, mas é bem possível que o seja na prontidão em servir, acolher e amar incondicionalmente...
Por menor que julguemos ser nossa luz, ela pode ser como o sol do meio dia para quem sofre mais que nós.
Aprendi hoje que a força para viver consiste em pensar mais no outro do que em mim mesmo...
Que uma vida bem empreendida não é uma vida intensa em si mesma, mas uma vida que se intensifica no altruísmo genuinamente cristão...
É uma vida que se presenteia, que se doa, que se entrega... assim como Cristo fez por cada um de nós...
"Alegrem-se teu pai e tua mãe, e regozije-se a que te gerou" ( Provérbios23:25)
É tão bom quando a vida nos surpreende...quando nos arranca um sorriso espontâneo... que perdura.
Foi esse o efeito em mim causado por essa imagem...um momento mãe e filha que não é flagrado a todo
instante, não obstante sabermos que tais momentos se multiplicam na privacidade dos lares.
Em dias tão perturbados onde o terror nos estupra a alma e o medo nos assedia, uma imagem dessas nos
faz lembrar que a vida não é só dissabores.
A vida pode ser, sim, como num conto de fadas, feita de felicidades para sempre, quando nos permitimos mergulhar no universo infantil e dele desfrutar, por minutos que sejam.
Ah, como a corrida pela sobrevivência nos tem privado de momentos mágicos...
Como temos permitido às lágrimas usurparem o lugar da alegria em nossas faces descrentes...
descrentes da fantasia que faz do mundo infantil, um planeta de sonhos onde tudo é possível...
descrentes da utopia que aposta numa sociedade melhor à partir da reciclagem de nós mesmos...
descrentes até das palavras do Filho de Deus que afirmou ter vindo ao mundo para nos trazer uma vida abundante.
E que abundância de vida eu vejo nesta imagem, neste encontro das formas de amor mais sublime que
existe...mãe e filha interagindo alheias à plateia que os rodeia e certamente os admira.
Fico pensando no sentimento de Cristo, quando repreendeu os discípulos que, em seu excesso de zelo, impediam os pequeninos de se aproximarem...
"Deixai-os, não os embaraceis", disse o mestre...
Jesus sabia que a alegria da criança é o que melhor expressa o sentimento divino em relação às suas criaturas.
Estou certo de que a vida nos reserva muitas surpresas, e parte delas nos passam desapercebidas na medida em que deixamos de viver intensamente cada momento.
Quantas surpresas nos aguardam no âmbito da vida familiar...
Quantas surpresas pelos caminhos que trilhamos cotidianamente , mas que o tédio não nos permite vislumbrar...
Surpresas como esta imagem que me encantou, me emocionou e me conduziu nesse gostoso devaneio, o
qual encerro apropriando-me de um trecho da música "My Way", pois a reflexão sobre a história da nossa
vida tem que nos levar ao ponto de dizer:
Valeu a pena.
"Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive minha parte nas derrotas
E agora, conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido".
Marcello di Paola
Dedicado a Camila Roman de Moraes, Muito obrigado por me ceder a foto.
"Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo..." (Carta de S. Paulo, Apóstolo, aos Efésios 5:22)
Enquanto uns procuram com quem se identificar, outros procuram se diferenciar...
Eis a contradição humana...
Desejamos ser únicos, mas não sozinhos...caso contrário quem perceberia nossa exclusividade?
Por natureza ninguém é igual a ninguém.
Penso que isso tudo tem a ver com a tal da auto imagem... ambos estão equivocados.
Não precisamos do outro nem para se identificar, nem para se diferenciar...
Precisamos do outro para amar...para servir...para se doar.
Uma auto imagem distorcida nos leva a esse truques mentais que alterna identificação e diferenciação, segundo nosso momento.
A grande questão é que somos todos, sem exceção, imagem e semelhança de Deus.
Não há que se procurar uma identificação já existente e muito menos uma diferenciação inexistente.
Não fosse pelo outro, não seríamos cada qual um "eu"...
A humanidade flerta com o abismo quando incentiva a individualidade, o egocentrismo, ao invés do altruísmo e abnegação.
Deus se submeteu a ser igual a nós na pessoa do Cristo, empatia...
Mas nós não nos sujeitamos a ser iguais uns aos outros, apatia...
Insistimos em nos destacar...em ser melhor...em subjugar o outro...
Ansiamos por plateias que nos aplaudam, que nos façam acreditar no que desacreditamos, nós mesmos.
Insisto, é tudo uma questão de auto imagem distorcida...
Distorcida pelo pecado, distorcida pela obstinação luciferiana de subirmos até o céu dos céus e assentarmos no trono do altíssimo.
Precisamos mais que nunca enxergar Deus uns nos outros...
Somente Deus, poderia nos fazer tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo.
Submetendo-nos ao projeto restaurador de Deus para nossas vidas, que passa pela cruz, seremos iguais na essência, diferentes nas experiências, mas unidos em qualquer circunstância.
"Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, SENHOR, nunca desamparaste os que te buscam". (Salmos 9:10)
É triste constatar, mas vivemos dias de extrema desconfiança. As relações entre pessoas que deveria ser a expressão humana da eterna comunhão da Trindade, converteu-se na dúvida que nos leva a desconfiar quase que instintivamente das intenções do outro.
A desconfiança se faz presente em toda parte onde há vestígio de homem.
A beleza e glória do Criador dissipou-se das faces, enfeiando-as e fazendo-as irreconhecíveis mutuamente.
Isso me faz pensar que vivemos uma espécie de esgotamento da credibilidade.
Chegamos ao extremo de perder a confiança em Deus e ainda assim, ou quem sabe por isso, nos julgarmos inteligentes.
Em tempos onde as relações são marcadas pela desconfiança, precisamos redescobrir urgentemente a capacidade não só de confiar, mas de nos fazermos confiáveis.
É necessário olhar mais nos olhos das pessoas, ouvi-las desprovidos de preconceitos...desejar sinceramente saber o enredo de suas vidas...abraça-las sem sentir-se ridículo.
Mas como resgatar algo que se perdeu se não estivermos dispostos a fazer o caminho de volta para encontrá-lo? Isso se refere a tudo, amor, esperança, alegria, fé, confiança...
Em se tratando de confiança, leva um tempo considerável para construí-la e um tempo maior ainda para reconstruí-la.
De uma coisa eu sei, viver sem poder confiar é viver com medo.
No verso que abre esse devaneio, sugerido por minha fiel amiga Leopoldina Caceres,o salmista fala em conhecimento de Deus.
Sua tese é que a confiança se constrói pelo conhecimento.
Por outro lado, não se conhece sem proximidade. Alguém já disse com muita sabedoria que não se conhece uma pessoa até ter comido um quilo de sal com ela, no que concordo plenamente.
Confiança é algo muito sublime para se ter em qualquer um.
Não adianta proclamar aos quatro ventos que se confia em Deus se não andar com Ele.
No caminho de volta na procura da confiança que se perdeu, verificaremos que acabamos por coisificar as pessoas. Tornamo-las invisíveis desde o momento em que nos dispusemos ao canto da sereia,ou melhor, da serpente, de que somos melhores que o outro.
Ah, se déssemos ouvido aos dois grandes mandamento, nos quais se resumem toda a lei e os profetas, "amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo", jamais viveríamos desconfiados e por isso mesmo, inseguros e infelizes.
O fato é que perdemos a proximidade com Deus e por consequência com os semelhantes, mas aos que se propuserem a buscá-lo e conhecê-lo cada vez mais, experimentarão uma nova dimensão em suas relações...
A confiança será retomada, a segurança, a paz e..
...a alegria de viver.