sábado, 2 de janeiro de 2010

Elevo os meus olhos para os montes de onde deslizará o barro...


Virada de ano...2009 / 2010...chove intensamente no sudeste brasileiro.
Após as boas vindas ao novo ano com queima de fogos, entre fotos, comida farta , champanhe, vinhos, música, danças e abraços, as famílias se recolhem aos pés do monte a beira mar. Paisagem paradisíaca de cartão postal. A madrugada mergulha no silêncio, mas não por muito tempo. Um estrondo seguido de deslizamento soterra pousadas e casas de veraneio, sepultando sonhos horas antes compartilhados e brindados em meio a sorrisos eternizados na esperança.
Ao ver as imagens dos parentes enlutados com os rostos deformados pelo desespero, meu coração também se deforma de aperto com a angústia dos agustiados. Elevo as mãos a cabeça e inquiro: Meu Deus, por que??
A morte de qualquer ser humano me diminui, já dizia um pensador...
Assim, eu me sentia e me sinto, diminuto, um menos que nada, enquanto escrevo estas palavras. Mais uma vez o pregador se vê mudo e desnudo diante do espelho. O que dizer a um enlutado? Pior, a vários enlutados???

A festa que se converte em luto...o passeio que se converte em cortejo fúnebre...o sonho que se converte em pesadelo...o paraíso que se converte em inferno...o riso que se converte em choro...o sono que se converte em morte ...o ano novo que se converte em pranto...eis os paradoxos do existir.

O barro lamacento que enfeia a paisagem outrora arrebatadora, relembra que o homem é pó e ao pó tem que tornar...

E eu que sempre vi beleza na chuva, hoje descubro que ela também mata...

Não tinha familiares e nem amigos lá, os laços que me fazem solidário é o da semelhança e da impotência, também sou pó...

Em momentos assim o chão nos foge dos pés, o sentido da vida nos diz adeus e a realidade zomba de nossa já minguada esperança.

A fé é testada no seu limite...

No ápice da sua dor, o grande Jó disse: "Ainda que Ele me mate nEle esperarei".

"Elevo os meu olhos para os montes", dizia o salmista... Hoje, elevo os meus olhos para o monte da tragédia angriana e pergunto: "Senhor, de onde virá o socorro???"

De onde virá o socorro para os corações despedaçados???
De onde virá o socorro para os hóspedes da tragédia???

Não sei como, não sei quando, só sei que o som dos gemidos, dos choros e dos prantos que reverberam no monte daquela tragédia, hão de ecoar dizendo:

"O socorro virá do Senhor que fez o céu e a terra"...

3 comentários:

  1. Marcello,

    me permita mais uma vez "pegar emprestado" está reflexão para o meu blog?

    Só Deus para confortar o coração dos enlutados, nEle reside a força. Somos impotentes diante da morte.

    Deus o abençoe

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  2. Wilma...nem precisa pedir querida. Fique a vontade e obrigado pela visita.
    Bjs

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  3. Mama Mia!! Decididamente, absolutamente, você é dos bons, hein Marcello?
    Quando eu vou na livraria comprar um de seus livros?
    Sua capacidade textual é perfeita!
    Está de parabéns!!

    PS_vou agora colar no meu Blog...
    (^.^)

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