sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Cheiro das Letras...

"Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos..." 
(S. Paulo, Apóstolo aos Coríntios, 2ª carta)


Eu vou muito em sebo ( loja de livros usados, geralmente esgotados).

Há inúmeros em São Paulo...é um dos ambientes que mais me dão prazer...cenário perfeito para relaxar...gasto horas ali. Geralmente, ao entrar, minhas vias aéreas travam de imediato (rinite crônica) no que sou sempre socorrido pelo meu companheiro inseparável, o cloridrato de nafazolina.

Com o consentimentos dos ácaros, das traças e fungos vou explorando o mundo ao folhear páginas com as marcas do tempo.

Dia desses, uma amiga muito querida discorrendo comigo sobre livros, disse:

"Adoro cheiro de livro novo!"

Nunca havia atinado para o aroma citado, mas sua fala me levou a esse devaneio em forma de crônica.

Não é dos meus sentidos mais apurados, mas sei que cheiro de novo é bom...

Cheiro de carro novo...

Cheiro de casa nova

Cheiro de Roupa Nova...

Cheiro de bebê...

Cheiro de café moído na hora...

Cheiro de Dama da Noite se abrindo...

Cheiro de amor novo...

e agora...cheiro de livro...

O novo é cheiroso. Fato.

Mas, o que há em letras espalhadas aleatoriamente sobre folhas de papel ou páginas virtuais?

Nada mais que isso mesmo,  letras...

Porém, nas mãos de um hábil escritor, seja poeta ou cronista, ou mesmo de um pobre pregador que devaneia, elas se convertem em sentido...

E sentido me remete a olfato... cheiro...

Cheiro me faz lembrar que estou vivo, e que preciso escrever minha história de forma a chegar com um aroma suave às narinas do Altíssimo,  doador da vida.

Da próxima vez que eu pegar um livro numa estante vou cheira-lo...

Quando ler algo de alguém que se deu ao trabalho de organizar letras, procurarei ver mais que letras...procurarei adentrar nas sua intenções, abstrair seus sentidos e comungar com ele, não por concordar, mas por me identificar com um igual que sente e que cheira.

Todos somos cartas que precisam ser lidas...Que nos permitamos, pois,  não só ser lidos, mas cheirados, descobertos, revelados à quem de nós precisa...

Marcello di Paola

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