O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol. (Eclesiastes 1:9)
A sensação entediante da mesmice visita a todos num dado momento da vida.
Aprisionados no espaço, no tempo e no finito, não raro, questionamos o real valor de uma existência a qual fomos convocados a viver.
Sim...alguém, porventura, escolheu nascer?
E ao nascer as condições de vida já não estavam dadas?
Que pôde você e eu fazer sobre isso?
Somos um detalhe "quase" que imperceptível no tempo e no espaço..."quase" que um acaso.
Como se não bastasse, ainda somos dotados de uma consciência que nos situa em meio ao todo que nos cerca...um todo do qual muito pouco conhecemos.
Quem sabe não foi num devaneio assim que o pregador escreveu:
"O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol".
É uma frase cheia de tédio, certamente composta após um período de reflexão. Passa uma idéia um tanto pessimista...é carregada de desesperança...uma conclusão que sucede um suspiro profundo. Seria apenas uma frase dita por alguém num dado momento da história, não fosse ela a expressão de uma realidade comum ao gênero humano.
O "Nada é novo debaixo do sol", sugere um desgaste do pregador com a própria existência. O aborrecimento com uma rotina previsível.
É como se ele estivesse perguntando: "Mas a vida é só isso mesmo?"
Um ciclo interminável de repetições...
Não é assim que muitas vezes avaliamos nossas vidas?
Não temos a sensação de que nos falta algo?
É como se olhássemos em volta e nossos olhos quisessem ver mais do que veem e os ouvidos ouvirem mais do que ouvem. É um sentimento de incompletude que torna velho tudo o que ja foi novo...
E nossa crise não se aprofunda ainda mais ao lembrarmos que, como crentes, deveríamos ser felizes e gratos por tudo?
Mas a grande crise está aí, quando nos obrigamos a conciliar o que sentimos com o que cremos...
O Salmista já perguntava:
"Por que estás abatida, óh minha alma? Por que te perturbas dentro em mim?"
E isto depois de declarar
"Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus?" (Salmo 42)
A frase do pregador que abre essa reflexão faz um enorme sentido se considerado apenas sob uma ótica humana. Afinal é essa a sensação que todos temos em momentos específicos da vida. Nos identificamos com o pregador, porque sua limitação não é só dele, é nossa também. Por mais que tenham se passados séculos, o ser humano continua com as mesmas inquietações de seus ancestrais.
O contraponto a esta declaração aparentemente destituída de esperança de que tudo se repete e de que nada há novo debaixo do sol, nos é dada por Jeremias em suas lamentações:
"As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. (Lm 3.22,23)"
Portanto, pensar sobre isso certamente trará um novo alento a todos nós, que invariavelmente somos envolvidos pelo pessimismo que se origina no tédio.
Deus não está debaixo do sol, Ele está além do sol, de maneira a não ser vitimado por essa rotina entediante que tantas vezes nos acomete.
Minha palavra a você, prezado leitor, é de solidariedade. Sou solidário aos sentimentos conflitantes que nos aproximam e nos tornam comum. Não quero pregar o triunfalismo de uma vida sempre pra cima com base numa confissão positiva. Mas quero incentiva-lo a sempre se lembrar que Deus se apiedou de nós, pecadores, ao submeter-se a viver debaixo do sol em figura humana, na pessoa de Jesus. Com isso, entende nossos dilemas e fraquesas e não nos olha com cobrança, mas piedade e amor.
Concluo, concordando com o pregador quando diz que "nada há novo debaixo do sol", mas não deixando de observar que...
...além do sol há esperança.
Marcello di Paola
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