quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma perspectiva real da existência...

Melhor é ir a casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete... (Eclesiastes 7:2)


Mais uma vez somos surpreendidos pelas reflexões  do pregador.
Trata-se de uma frase cujo sentido só se encontra dentro de uma compreensão do contexto em que se insere o livro de Eclesiastes, ou seja, a vaidade da vida.

É evidente que ninguém prefere estar num velório, quando poderia estar numa festa. As motivações que levam a ambos os lugares são absolutamente diferentes.

As pessoas de uma maneira geral tendem a isolar-se da realidade concreta, construindo "realidades alternativas" e assim, reagir mui negativamente ante as contrariedades da vida.

O casal se casa idealizando ser feliz para sempre...

Os filhos são criados como propriedades exclusiva de seus genitores e todos os cuidados lhe são assegurados...

O dinheiro é poupado de sorte a garantir um futuro tranquilo para toda a família...

Tudo é pensado e calculado de maneira a evitar os infortúnios.

Felicidade... Áhh... a felicidade é a meta de todos!

Ocorre, porém, que ninguém passa incólume pela existência e todos sabem disso.

Ainda assim, muitos preferem erigir verdadeiras "neverlands mentais" ao invés de um monumento à reflexão que os façam sábios para a vida.

Platão disse certa vez que "uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida".

O Pregador se reafirma quando diz que "o coração dos sábios está na casa do luto" (v.4)

Esta não é uma mensagem segundo o gosto do Pregador, mas é oriunda das constatações que faz acerca da existência, como fruto de sua reflexão.

O existir é isso, saber passar pela vida admitindo e encarando com a maturidade necessária a possiblidade tanto do bem como do mal.

Trata-se de uma verdade que não pode ser surprimida do discurso endereçado a Assembléia.

Já se disse com muita propriedade que “não há bem que sempre dure e nem mau que nunca se acabe”
O que vemos hoje em dia são fiéis paparicados com discursos triunfalistas insurgidos de púlpitos não reflexivos.

O andar com Deus não nos exime de ser visitados pela tragédia, seja ela na forma de casamentos desfeitos, filhos tirados, patrimônios perdidos.

É o desejo do coração de Deus que os que o servem tenham uma perspectiva real da existência, para que o sigam desprovidos de interesses outros que não somente a Sua Glória...

Que como o velho Jó, que experimentou como poucos a coexistência entre o bem e o mau, possamos dizer:
"Temos recebido o bem de Deus e não recebería-mos também o mal?" (Jó 2:10)
e ainda...

"O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor". (Jó. 1:21)

Este pregador que vos escreve também está aprendendo a “existir”...

Tem feito disso a sua busca constante, entre meditações, orações e claro...

...devaneios.

Como me acalenta a alma saber que não estou só nessa jornada!

Marcello di Paola

2 comentários:

  1. Oi Marcello, beleza?

    Excelente reflexão. Realmente o Pregador estava bem certo ao dizer que as rodas de gargalhadas não são propícias para se refletir a vida, mas a casa de luto, sim.

    É ali que nos confrontamos com a fragilidade da vida, com a fugacidade da vida, com o absurdo que às vezes, é a vida.

    Interessante você citar Jó. Gosto de quando depois dos 3 primeiros capítulos, o personagem até então paciente, se rebela com a sua situação ao ouvir as acusações dos seus amigos.

    Acusavam-no de estar passando por tudo aquilo porque deveria ter pecado ou ofendido a Deus.

    Toda história é conduzida pelo autor que quer discutir uma teologia em voga em sua época: A teologia da retribuição, que em síntese, dizia que Deus retribui aos justos o bem e aos maus, a maldade, e isto, nesta vida, não no além.

    E se jó estava sofrendo, era Deus lhe retribuindo algum mau. E como você sabe, o livro desenvolve então a defesa de Jó à sua integridade.

    Jó sabia que tinha alguma coisa errada ali, pois se Deus o estava punindo, estava sendo injusto, já que ele nada de errado tinha feito.

    Não vou desenvolver aqui o assunto da Retribuição, pois não é o espaço adequado, quero terminar dizendo que às vezes o nosso sofrimento é injusto, não o merecemos, brigamos com Deus, e isso nos leva a refletir.

    Deus, no final do livro, não explica nada sobre o sofrimento de jó. Nenhuma palavra. Apenas é acusado de falar coisas que não sabia.

    O autor do livro deixa a mensagem clara: Não busque explicações em Deus para o seu sofrimento, pois o sofrimento nada mais é do que o outro lado da moeda da alegria.

    abraços calorosos.

    ResponderExcluir
  2. Grande Edú,

    grato por seu complemento tão pertinente. Me parece que ao tempo dos patriarcas não havia ainda uma associação entre o mal e o diabo, de maneira que tanto o bem quanto o mal era entendido como procedentes de Deus. Jó não tinha como saber do embate entre as forças na outra dimensão, daí sua crise existencial ante a "teologia da retribuição" e sua própria realidade.

    Quem sabe não seja o sofrimento injusto, mas nossa concepção de justiça que seja humana demais...

    Incrível como as teologias são desenvolvidas dentro do contexto de cada época, não?

    Mais uma vez obrigado por abrilhantar este espaço com sua mente privilegiada.

    Forte abraço na Paz do Senhor.

    ResponderExcluir